Nas ultimas semanas descobri um blog superlegal, onde várias pessoas escrevem textos incríveis, fiquei viciada e não tem como não ler todos os dias pelo menos dois ou três textos de lá.
E como boa leitora não poderia deixar de publicar alguns textos aqui... Afinal devemos partilhar o pão nosso de cada dia! Ah pra quem se interessar o blog é :CASAL SEM VERGONHA
Texto de Danielle Daian
Hoje ele veio me falar das flores. Das flores, do jardim, das
estações, do rio que corria em sua vida, do medo. Hoje ele veio me falar
de expectativas. Dessas que a gente sufoca o outro sem ver, miudinhas,
rotineiras, demasiadamente fantasiosas. Pensei no mundo, nos outros,
pensei em mim.
Lembrei-me de todos os meus sonhos de adolescente e quantos deles já
tinham ficado para trás simplesmente porque existiam expectativas
demais, fundamentadas em realidade de menos. Pensei em quantas vezes
sufoquei um relacionamento por esperar demais do futuro, em quantas
pessoas perdi por esse caminho por simplesmente não ter a leveza
necessária para deixar o rio da vida correr por si só. A dura verdade é
que num mundo onde amar virou sinônimo de coragem, a gente por vezes tem
um pouco de ansiedade com o amanhã. Ou a grande palavra do momento:
pressa. A gente tem medo de acabar a tia solteirona na festa de
aniversário do filho da melhor amiga, ou de passar a vida inteira sem
conhecer prazeres como decorar o quarto do casal ou escolher o primeiro
sapatinho do bebê. Ainda mais atemorizante, a gente tem medo de acabar
só no deleite de nossa própria companhia, o que implicaria em liberar do
armário escuro e sombrio todos os nossos monstros particulares que
tanto relutamos em esconder. A consequência de tanta pressa são
casamentos precipitados, relacionamentos forçados, rompimentos precoces e
amores que são causa ao invés de serem efeito. Em outras palavras, o
resultado se configura em expectativas demais, derramadas súbita e
integralmente em cima de pessoas que, naquele momento, podem não estar
preparadas para corresponder. Reticências pontuando frases que mereciam
boas vírgulas e um ponto final.
Pensei em caminhos, descaminhos, escolhas. Pensei em quantas vezes
culpamos o destino, o universo, Murphy e o karma por uma realidade
diferente da que a gente esperava. Em quantos milhões de desculpas
arrumamos para o comportamento divergente do outro e para tantas
atitudes (ou falta delas) para silenciar a dor e a ansiedade que
alimentamos em silêncio. Queremos encontrar culpados para um crime que
nós mesmos cometemos: a pressa de uma escolha. Nem karma, nem Murphy,
nem uma força maior somada a um infortúnio de coincidências. Nós
escolhemos estar ali e queremos que o outro faça essa mesma escolha em
um tempo que na verdade é inteiramente nosso.
Clichê, mas a vida é mesmo um grande rio sinuoso, em constante
movimento. Nós, somos apenas bons navegantes que temos a sorte de poder
escolher a direção, a velocidade e a bagagem que levaremos pelo caminho,
que nos instiga a correr o risco do inesperado correnteza afora, ou nos
intimida através do medo, limitando nossa trajetória ás margens
próximas onde supostamente existe segurança. Se arriscar, significa
aceitar o que o rio tem a oferecer de peito aberto, com a consciência
tranquila que nada que a correnteza traz é ao acaso. É acima de tudo,
saber respeitar os momentos de cheia e seca que a natureza impõe,
sabendo que tudo na vida são fases, com estações passageiras feitas para
o corpo d’água se recompor e seguir inteiro, sem fragmentos de viagens
passadas, pronto para novas turbulências.
Hoje ele veio me falar de perspectivas. Aquilo que a gente inventa,
sem deixar que simplesmente seja. Pensei no tamanho e na fluidez da
bagagem que muitas vezes levamos no nosso pequenino barquinho, na
“malinha” cheia de expectativas, frustrações e dores de amores mal
curados. Cacos e peças desconexas que não fazem mais parte do quebra
cabeça do presente e que deveríamos ter deixado para trás, liberando
espaço para uma bagagem, de fato, enriquecedora. Afinal de contas
bagagem que guarda tristeza e sofrimento, pesa e a gente só abre pra
quem demonstra reciprocidade. Quanto mais leve a mala, mais fluido o
barco desliza pelo rio. Calmo, natural, como tem que ser.
Penso sobre passado, presente e futuro. Penso sobre amor e toda sua
eternidade no breve espaço de um segundo. E finalmente entendi, que
expectativa gera frustração sim, apenas quando depositada sobre ombros
despreparados. Preparo exige calma e tempo. Construir vontades também.
Porque ir devagar, na maioria das vezes é muito mais rápido.
Sentada ali no parapeito da janela, vendo o sol deixar esse lado do
mundo para poder iluminar os dias daqueles que estão tão distantes,
observando os carros passando velozes pela rua, os passarinhos buscando
seus ninhos, me dei conta de que no fundo eu e o resto do mundo só
queremos um lugar pra voltar.
Hoje ele veio me falar do medo. E eu, sem nenhuma expectativa, falei
pra ele de amor. Fluimos. Com a leveza de um agora vivido sem pressa
nenhuma.
Sábias palavras Brenna Gabriela.
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